Estava refletindo sobre minha vida, antes mesmo de eu ter dificuldade de achar números de calça em lojas populares eu já era a diferente da turma: a gordinha. E hoje resolvi escrever sobre isso, a vida de ser gorda. Uma característica pouco admirada na sociedade.
Como é ser gordo?
Eu respondo:
Como se não bastasse os problemas da adolescência é preciso se defender de xingamentos e viver num mundo que não é feito para suas dimensões e muitas vezes ser tachado de criminoso e preguiçoso pelos quilos a mais. Até a 5 série o estress por ser gordinho não é tanto, as crianças não são tão más até a 5, elas começam a ser estúpidas de verdade na 6, ai sim, debocham de tudo que tu veste, do teu cabelo e de outras coisas idiotas, que fazem uma menina se sentir a pior pessoa da face da terra. E foi nessa época que uma amiguinha magra disse pra mim: “Deus dá uma coisa e tira outras, eu por exemplo sou bonita de corpo e já tu é de rosto”. Ai começou a cair a ficha, compreender e sofrer com a maldade juvenil, na fatídica 6 série. Dai por diante começa a fase crítica, primeiras experiências, primeiras paixonites. Quando vê é a formatura e no ano seguinte caímos no segundo grau, mal gosto pra roupas, pele ruim, cabelo meio estranho, ganância por ser notado e amado. Colegas começam a te notar, mas não (em grande maioria) de uma maneira positiva, por que afinal de contas tu estás fora dos padrões e muitas vezes precisa a se vestir como um velho pq as roupas da tua idade não servem. E lá isso é motivo pra ser odiada? Acho que não, porém, frequentemente é preciso enfrentar os “leões” por causa de uma aparência que não é “aceita” pela sociedade, tarefa árdua. Defender-se do preconceito contra gordos começa a ser uma jornada diária, meninas que falam da tua roupa, meninos que debocham de ti, listas das mais feias, das esquisitas e etc… Essas atitudes colaboram para a pessoa se retrair mais, ou criar anticorpos, mas por mais que digam que não, a gente sofre, podendo refletir em ser um adolescente e um adulto frustrado, triste e depressivo, ou não tudo depende, mas é certo que precisa de uma estrutura forte para aguentar. O peso não impede que façamos coisas legais das nossas vidas que tenhamos amigas e namorados, que sejamos felizes e competentes. Claro que compra roupa é sempre uma frustração, lembro que uma vez quando estava saindo fora dos padrões de verdade (2008) que não estava mais vestindo 44, foi o início do caos, chorei no provedor das lojas Marisa, e então achei uma calça 48 que ficava larga e sai de la feliz e contente.
Embora hoje com eu 3 digitos na balança adquiridos principalmente nos dois últimos anos trágicos de faculdade, a coisa começa a ficar feia, mesmo em lojas especializadas com suas roupas feias ( em grande maioria). Os teus pés doem pq não aguentam o teu peso por muito tempo. Eu não to aqui pra justificarmos pq somos gordos, mas um fato é que é uma válvula de escape, um prazer e uma necessidade, é quase um vício, muito difícil de ser controlado por que encaramos eles no mínimo 3 vezes por dia.
Mesmo com todos os meus quilos a mais eu sou feliz, pq todos temos esse direito, gordos ou magros. Mas, pra eu ser mais feliz mesmo eu gostaria que mais lojas vendessem até o 54 ( hoje em dia – 2017- queria que tivessem roupas até pelo menos 64), que os bancos dos onibus fossem mais largos e que as pessoas respeitassem as outras pelo o que elas são e não por sua aparência.
Bem resumo da história, depois de muito ser chamada de feia eu desenvolvi uma alto estima estética e com ajuda das amigas recuperei o orgulho feminino (brigada cris, nanda, dessa, ceci) e comecei a me maquiar, a me arrumar mais, a cuidar mais de mim, parece idiota, mas faz bem tb, ajuda a fortalecer contra tudo isso que eu escrevi acima, dai que vem toda a minha paixão pela maquiagem, que é quase uma máscara que ativa a confiança para encarar a sociedade.